Para todos os apaixonados por viagens de moto.
Fica aqui o alerta.
Experiência relatada por José Mauricio
Para quem não sabe, a hipotermia é a redução da temperatura do nosso corpo. Em casos graves, a redução da temperatura do coração pode fazer esse órgão parar. Ou seja, hipotermia pode matar.
O pior disso é que você não sente nada, pois quando seu corpo entra em hipotermia o organismo tenta proteger a vida e passa a manter quentes somente os órgãos vitais e sua sensação externa de frio acaba.
Passei por isso e sirvo para ilustrar como acontece. Foi na mesma viagem relatada no “Ainda bem que eu estava sozinho”. Depois daquele banho de óleo, ainda rodei sob bastante chuva naquelas retas intermináveis da Argentina.
A temperatura era de 15 graus positivos e avistava o céu azul no horizonte. Estava louco para sair debaixo daquela chuva que me acompanhava por mais de 2.000 km. Mesmo com toda a roupa que estava usando e a roupa de chuva por cima, estava um pouco molhado. Tudo meio úmido por baixo.
Quando finalmente atingi aquele céu azul e sai da chuva, a temperatura caiu para dois graus positivos! Era uma frente fria. Mantendo aquele ritmo constante naquela reta que não acabava nunca, comecei a sentir frio, que piorou a ponto de eu quase não suportar.
Porém, à medida que eu avançava o frio que eu estava sentindo foi diminuindo e passei a me sentir razoavelmente confortável. Até estranhei isso e conferi várias vezes a temperatura no equipamento que levava preso ao guidão da moto. Ela se mantinha rigorosamente em dois graus positivos.
Continuei rodando por cerca de uma hora, quando alcancei um caminhão carregado de lã. Dei uma olhada adiante e avistei um carro muito longe, vindo em sentido contrário. Calculei que dava tempo para ultrapassar. Saí para a esquerda tranqüilamente, mas vi que o carro começou a piscar o farol desesperadamente e se aproximava muito rápido!
Putz, não daria tempo para a ultrapassagem. Ele vinha a uns 200 km/h. Reação imediata: dar uma tocada no freio e voltar para trás do caminhão! Só pensei isso. A mão não se mexeu. Por sorte as BMW com motor boxer têm muito freio motor e somente a desaceleração foi suficiente para diminuir a velocidade e me por novamente para trás do caminhão.
Foi só o que consegui, voltar o acelerador. E o carro passou a milhão do meu lado. Era um esportivo vermelho a toda! Não consegui ver, mas parecia um carro japonês. Depois da manobra, fiquei pensando nessas reações falhas: Avaliei mal a ultrapassagem e minha mão não se mexeu. Tentei minhas pernas e estavam lentas também... “Cara, isso é hipotermia! Tenho que parar urgentemente”, pensei.
Ainda bem que logo adiante havia um “parador”, posto com loja de conveniência. Entrei no posto e parei em frente à loja. Por sorte, baixei o cavalete lateral e apoiei a moto. Quando tentei descer a perna não funcionou e eu caí no chão. Apareceram várias pessoas correndo e perguntado: “Que te pasa? Que te pasa?”. Respondi que era o frio...
Eles me levantaram e me ajudaram a ir para dentro da loja, onde havia calefação. Tirei toda aquela roupa úmida e fiquei só com a calça e a camiseta. As meninas da loja me fizeram vários chocolates quentes e fui bebendo.
Demorei quase uma hora para começar a sentir frio novamente, quando meus dentes começaram a bater incontrolavelmente, fazendo até barulho. Morri de vergonha, pois todo mundo ficava me olhando tremendo como um louco.
Depois de três horas, me recuperei e segui viagem até um hotel na primeira cidade, a 14 km do posto. Nunca mais caio nessa armadilha. Paradas freqüentes para avaliar tudo são indispensáveis!
O “motonauta” José Mauricio participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br.
Fonte:
Moto Repórter